O mercado brasileiro (10/2002)

O mercado brasileiro

Cada país tem uma realidade própria, um povo próprio, problemas próprios, economia e sociedade própria e, claro, um mercado próprio. Somos tão dependentes dos mercados estrangeiros e tão influenciados por eles, que raramente paramos para olhar o nosso próprio. Falo do ponto de vista de um profissional essencialmente de tecnologia.
Nosso mercado de tecnologia, em especial de software, tem características muito bem definidas.

Somos essencialmente representantes de produtos

Se você é responsável pelo software de uma empresa, procure contar o número de vezes em que alguém ligou para você oferecendo produtos. Quantos são desenvolvidos pela empresa que os oferece e quantos são representantes de produtos estrangeiros?

A maioria dos empregos de programadores é em empresas de consultoria ou como programadores de soluções próprias para empresas dos mais diversos fins

Essa é uma conseqüência de não sermos tradicionalmente produtores de software, e sim consumidores. É raro encontrarmos programadores contratados para desenvolver produtos de prateleira e, em geral, os produtos nacionais de prateleira não apresentam grande sofisticação técnica. Exportamos muito pouco software e recebemos quase nada em royalties.

Uma grande fatia de mercado é preenchida por empresas de médio

a pequeno porte de treinamento em informática

Em especial fora do eixo das capitais. Para se abrir uma franquia de uma marca conhecida é necessário um investimento muitas vezes inacessível para o pequeno empresário. O mercado local e a concorrência podem não ser tão competitivos que uma grande marca traga alguma vantagem.

Os grandes fornecedores de software têm que manter um patamar de preços próximos no mundo todo para evitar compras paralelas. Como nosso dinheiro tem se desvalorizado frente ao dólar, o custo desse produto tende a aumentar. Compare o preço de uma licença de software pessoal no Brasil com a renda média nacional e o preço de licenciamento do mesmo software com a renda média do país de origem do software, para uma idéia do que eu quero dizer.

A cópia ilegal de software prejudica a sociedade porque impostos deixam de ser arrecadados, mas por outro lado não podemos deixar de constatar que a cópia desmedida de software foi responsável por grande parte da informatização da indústria nacional há 10 anos (86% do software era ilegal há 10 anos 54% hoje, dados da ABES). Afinal, para quem treina ou vende consultoria, não faz diferença se o software de seu cliente é legalizado ou não.

Não quero aqui fazer “apologia da pirataria”, muito pelo contrário, quero propor que todos lutem pelo uso do software livre como alternativa moral e legal à cópia não autorizada na informatização de nossa sociedade. Em 1992 não havia esta alternativa, mas hoje sim. Por que insistir com práticas ilegais? Devemos livrar o mercado da hipocrisia de ter equivalentes livres e continuar usando produtos copiados ilegalmente.

A presença de código fonte dentro das empresas as torna potenciais clientes de consultorias e treinamento, impulsionando ainda mais estes fortes setores nacionais. Com o código fonte presente, empresas que de outra forma não teriam necessidade passarão a contratar programadores que possam tirar proveito deste código. Tudo dentro da mais cândida legalidade.

Por que não abolimos a prática funesta da cópia ilegal de software de nosso mercado tornando-a desnecessária? Quem optar por usar software proprietário, que pague por suas licenças e beneficie a sociedade com impostos, quem não puder pagar, que use software livre e beneficie a sociedade através de sua informatização e do acréscimo ao capital social que decorrerá do seu uso intensivo.


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