Gestão de projetos: Os stakeholders

Vovô simpson segurando uma estaca
Vovô simpson segurando uma estaca

Ainda usando meu exemplo pessoal de projeto, a viagem para a Itália, vou comentar um conceito bastante comum e uma daquelas “palavrinhas mágicas” que se ouve em reuniões de gerência e diretoria por aí: “stakeholder“.

A palavra stakeholder origina-se da junção de duas palavras, “stake” e “holder”. Literalmente, holder é “aquele que detém a posse de”. Stake é “estaca” (ou o nome do poste em que as pessoas eram amarradas para serem queimadas pela inquisição),  podendo significar também “chance” ou “risco”.   No direito americano, “stakeholder” era um terceiro que se responsabilizava temporariamente pela posse de  um valor ou bem que estivesse em disputa.

Essa explicação pseudoetimológica é necessária para que não nativos como nós  entendamos bem a carga cultural que a palavra “stakeholder” traz embutida. Esta carga é completamente perdida quando a traduzimos para “interessados” ou “envolvidos“,  ainda pior se impunemente a incorporarmos ao português. Conceitos como “valor”, “bem”, “risco”, “chance”, “interesse” ou até mesmo “ser queimado pela inquisição” são carregados por esta palavra.

Mas quem são stakeholders?

Na  definição do escopo inicial do projeto “viagem à itália” são claros os principais stakeholders:

  • Meu pai
  • Meu filho
  • Eu

Aí nesta lista constam os dois investidores (Eu e meu pai). Eu além de ser um investidor, sou o gerente do projeto. Meu pai é um investidor no sentido mais clássico, injeta dinheiro e espera os resultados.  O projeto afetará a nós 3, deverá atender as expectativas de nós 3, que aliás, definimos o escopo inicial.

Reparem que um dos 3 não irá injetar dinheiro nem participar do planejamento e execução mas tem necessidades que devem ser atendidas, demanda uma atenção especial e sem ele o projeto poderia sequer fazer sentido. Vou carinhosamente chamar meu filho de “o cliente“, num paralelo mais emocional do que prático.

Mas segundo a definição corporativa clássica de “stakeholder“: “Aqueles grupos sem o apoio dos quais o empreendimento cessaria de existir“, facilmente podemos expandir a lista. Para citar alguns “stakeholders“:

  • Minha mãe
  • Meu irmão
  • A mãe do meu filho
  • O governo brasileiro
  • A comunidade européia
  • O governo espanhol
  • O governo italiano
  • A companhia aérea

Para citar os principais.  Também chamaria de stakeholders a minha namorada, a concessionária das ferrovias italianas, a locadora de automóveis, as prefeituras e administração dos monumentos italianos, as polícias locais, etc. Mas vou limitar a lista àqueles que, se de alguma forma se opuserem ao projeto ou à execução, irão praticamente invalidar o escopo inicial.

Vários ali parecem óbvios, mas o que o governo espanhol está fazendo ali se é uma viagem à Itália? A companhia aérea escolhida foi a Ibéria, que é uma companhia espanhola. Os vôos terão conexão em Madri portanto estaremos sujeitos às regras e leis do governo espanhol, mesmo que por poucas horas. Para deixar claro, se fôssemos foragidos da justiça espanhola,   o projeto certamente não se concluiria 😉

Para entrar na Comunidade Comum Européia é necessário que  tenhamos seguro aderente aos termos do tratado de Shengen, precisamos ter passaportes válidos, precisamos estruturar nossos gastos (quanto no cartão de crédito, quanto em cartão de débito, quanto em moeda estrangeira comprada antecipadamente?)

É bem interessante, não? Uma viagem em família pode se desdobrar no entendimento de leis e burocracia nacionais e estrangeiras, múltiplos fornecedores de serviços de apoio, grandes responsabilidades, expectativas a serem atendidas, diferenças culturais, atenção às flutuações de câmbio e à conjuntura macroeconômica… é uma empresa em miniatura. 🙂

Pessoa queimada em uma estaca (inquisição)
Pessoa queimada em uma estaca (inquisição)

O não entendimento de quem são os stakeholders de um empreendimento estão, em meus 10 anos de experiência gerencial, entre as principais falhas em projetos e razões para posterior “caça às bruxas” (agora aquela coisa de queimar na fogueira faz sentido, não?). No creo en brujas ni en brujeria, pero que las hay, las hay 😉

Outra coisa que fica clara é que existem stakeholders “internos” e “externos”. Deixo como exercício para o leitor identificar quem são e por quê.

Ciao e a dopo! 🙂

Referências: Wikipedia, Dictionary.com: Definição de stakeholder, Dictionary.com: Definição de Stake, Michaelis Inglês/Português online: Definição de Stake


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Comentários

4 respostas para “Gestão de projetos: Os stakeholders”

  1. Avatar de Pablo
    Pablo

    Olá Eduardo, estou terminando uma especialização em gerência de projetos e meu trabalho final é o plano de projeto para uma viagem à Europa. Gostaria de entrar em contato contigo para de repente trocármos algumas idéias, já li teus dois posts e achei bem legal, estou tentando fazer o trabalho completo sobre minha viagem, passando por todas as áreas do PMBOK. Abraços!

  2. Avatar de Jonas Fagundes

    Fala Maçan,

    Nesse contexto, stakeholders pode ser traduzido como “donos do projeto”. São aqueles que perderão recursos se o projeto falhar. Seu filho não é stakeholder, mas sim usuário do projeto, do mesmo jeito que se você estiver montando um hospital filantrópico os pacientes não são stakeholders mas sim usuários (beneficiários nesse caso). A palavra acionista também é uma boa tradução para português da palavra stakeholder.

    Que eu saiba stakeholder não tem nada a ver com estaca, mas com o cara que guardava as apostas. Mas de toda forma esse não é o sentido da palavra stakeholder no contexto de projetos.

    []’s Jonas

    1. Avatar de Alice
      Alice

      Jonas, estamos falando é Projetos alôooooooo

  3. Avatar de Mauro Rezende
    Mauro Rezende

    Esqueceu de uma classe de stakeholders secundários: os leitores desse blog. Coloque aí no seu plano de comunicação divulgar suas descobertas aqui no blog :p

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