O passado, o passado…

A trama principal do “Anjos e demônios” gira em torno de uma batalha antiga entre ciência e religião, que remonta aos tempos em que provar matematicamente fenômenos da natureza era visto como ato contrário à fé, portanto demoníaco, passível de perseguição e morte na fogueira… em algum ponto é colocada a visão de um personagem chave na trama, que acredita que a ciência e a religião sejam exatamente a mesma coisa, e que a ciência à medida que avança, compreende um pouco mais a verdadeira face de Deus… as opiniões desse personagem eram tão iguais às minhas que tive que fuçar meus arquivos pessoais em busca de um texto que eu escrevi em 1997 para minha homepage pessoal (a terceira que eu tentei fazer e manter) e nessa aventura arqueológica encontrei alguns tesouros, como as edições do Core News (site e resumo semanal de notícias sobre software livre por e-mail) que mantive entre 98 e 2000 aproximadamente, alguns dos quais pretendo republicar aqui nesse site por razões histéricas, digo… históricas.

Mas voltando ao Dan Brown e ao “Anjos e Demônios”, eis o que escrevi, em Agosto de 97, sobre o assunto. Noto tanta coisa que não faz mais parte da minha personalidade nem da minha vida nesses textos todos, estou impressionado com o quanto amadureci nesses poucos anos que me separam desses escritos, o que me lembra que tenho que ser um pouco mais tolerante com quem ainda não teve as oportunidades que tive. Assusta um pouco saber que ainda falta muito pra trabalhar na minha personalidade… caramba… Aaah jovem e inexperiente Eduardo, se ao menos você soubesse…


ANTROPOLOGIA e AFINS

Joseph Campbell é para mim mais do que um autor de livros difíceis de antropologia para acadêmicos da área. O poder do mito, por exemlo, chega a ser pra mim quase um sutra.
As máscaras de Deus foi último livro dele que li, li apenas um da série. Gosto muito de religiões, mas como observador. Tenho em casa a Bíblia Sagrada, O Alcorão, o livro dos mormons (este num CD do projeto Guttemberg).

Gosto de ler livros sagrados de várias religiões, pois são escritos por povos e não por pessoas, são uma imagem dos anseios dos povos que os escrevem, um reflexo do inconsciente coletivo, e é curioso como mesmo entre povos isolados geograficamente, de religiões diferentes, as histórias e lendas e os códigos de ética apresentados se intercedem criando o que eu consideraria uma sombra um pouco mais nítida do que cada grupo isolado tentou definir como sendo a “Lei”.

Deus existe na minha opinião, ao lado da ciência, e não se contrapondo a ela. O conflito entre ciência e Deus existe pois nossa cultura, história e ciência utilizam um conceito temporal baseado em PRINCÍPIO, MEIO e FIM. O grande mistério é descobrir como tudo começou, como as coisas foram criadas, uma grande explosão e tudo apareceu, mas o que causou a grande explosão? Se algo existia e causou esta grande explosão, então o PRINCÍPIO, o ponto zero é anterior a ela. A premissa de que tudo tem um início meio e fim é o que faz a ciência questionar a existência de um “criador” pois haveria então algo (o criador) que estaria lá antes do início e isso deixa os cientistas malucos :). Eu resolvo o problema acreditando que a ciência e Deus são a mesma coisa, e que o escopo de compreensão humana é limitado pelo simples fato de que não somos capazes nem temos instrumentos para compreender coisas que não tem princípio meio e fim. Todo cientista acredita que o infinito existe, números são infinitos, então porque criar mais discussões inúteis sobre como começou o universo e coisas assim? Deus para mim não é uma entidade, mas uma representação de tudo o que a humanidade ainda desconhece, o complemento do conhecimento humano, bom ou mau.

Em resumo, cada dia a ciência avança mais dentro de Deus, desmistificando, mas sempre há o que aprender, então, o conhecimento científico e Deus são parte da mesma coisa, no fundo o que a ciência faz é estudar Deus a cada dia. Deus é o infinito conhecimento a ser desvendado pela ciência,
Dizer que Deus é alguem que vai me castigar se eu bater na minha mãe é besteira, esse Deus só existe para os que têm o que chamamos de consciência, e se Deus for isso mesmo, quando nos encontrarmos pessoalmente eu peço desculpas a Ele; de qualquer forma, esse Deus também faz parte do que a ciência ainda não é capaz de provar, implicando na minha definição particular de Deus, então eu devo estar certo 🙂

Raul Seixas também devia pensar assim, pois ele disse certa vez: “Deus é o que me falta para compreender aquilo que eu ainda não compreendo”. Ele diz isso no final de alguma música, e em outra ele diz “Já fui católico budista protestante tenho o livro na estante, todos têm a explicação” (assim mesmo, sem pausas) pelo menos não estou sozinho, Ah! É mesmo, ele morreu… 🙂

Apenas para constar, sou católico, mas acho que se prender a um tipo de conhecimento ou crença é se limitar demais, e me limitar não é algo que eu gosto (sic).



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