Bye Bye, so long, farewell

A todos meus amigos do movimento do software livre.

Não é sem uma boa dose de nervosismo que escrevo essa nota, mas sinto-me na obrigação de comunicar o  meu desligamento a todos aqueles que estiveram próximos a mim nestes últimos 12 anos aos quais me dediquei ao movimento e aos ideais do software livre.

Foram quase 13 anos, quando encontrei o software livre então aos 19 anos de idade, descobri muito mais que um amontoado de caracteres agrupados em arquivos que formavam programas de computador, descobri uma filosofia. Descobri que existia, mesmo dentro do mundo de silício e plástico uma centelha do que havia de melhor no ser humano: solidariedade.

O software livre me proporcionou a melhor base técnica que um estudante e aficcionado por tecnologia poderia desejar, permitindo que meus colegas e eu fizéssemos nossas redes e ensaios dentro de nossas casas, antes da maioria das empresas sequer imaginarem o que viria a ser a internet ou antes de cunharem o termo "intranet" e tantos outros "buzzwords" do nosso meio. Sem dúvidas, não teria eu  chegado onde cheguei não tivesse apostado naquilo que a maioria considerava uma idéia "sem futuro" coisa para "doidos", coisa de "hippies" algo que "nunca sairia das universidades"… diziam que eu estava desperdiçando meu brilhante e promissor futuro profissional, fico feliz ao olhar pra trás e ter a certeza que a probabilidade de ter desperdiçado meu futuro profissional teria sido muito maior caso eu não tivesse seguido minha intuição, caso eu não tivesse braçado o que falava ao meu coração e não à minha ganância.

Mais importante do que sucesso em qualquer acepção da palavra que eu tenha obtido graças ao software livre, consegui amigos: muitíssimos por um breve período de tempo, muitos por muito tempo e alguns pra toda vida; a maioria igualmente idealista, a maioria igualmente preocupada em restaurar o equilíbrio entre o papel corporativista da nossa indústria e o papel fundamental da informática como base de sustentação para a sociedade moderna. Somos humanos, e não somos melhores nem piores que nenhum outro movimento social, mas somos únicos, sem precedentes históricos em abrangência, efeito, sustentabilidade e importância, por mais que sejamos injustamente ignorados na maioria das vezes.

Existem pessoas boas e más dentro desse movimento, existem os aproveitadores, existem as segundas, as terceiras, as enésimas intenções, existe o bairrismo, existe o "oba-oba", existem os pára-quedistas, existem as "celebridades vazias", existem aqueles que insistem em querer tentar liderar ou direcionar alguma coisa… mas principalmente, existem os bravos desconhecidos que todas as madrugadas e finais de semana malham os lingotes incandescentes do intangível e
materializam  pensamentos em suas telas. Esses sim, são o movimento do software livre. São as abelhas voando de forma aparentemente caótica se observadas de perto mas se  movendo coesas no maior exemplo de inteligência e trabalho coletivo da natureza.

A maior beleza do software livre é que tudo mundo é importante, mas ninguém é imprescindível. Ninguém "faz falta" 
isoladamente, mas ainda assim todos fazem falta, ou como colocaria Gregório de Mattos, em soneto que me foi apresentado primeiro por meu irmão como provocacão intelectual:

O todo sem a parte não é todo,
a parte sem o todo não é parte.
Mas se a parte faz o todo, sendo parte,
não se diga que é parte, sendo todo.

Essa indistinguibilidade entre todo e parte é o que me faz estar certo de que não deixo de fazer parte do movimento do software livre. Peço aos amigos que perdoem a minha "ausência" e não estranhem se deixo de participar das discussões acaloradas, das viagens, dos encontros, dos eventos, das palestras. Por muito tempo me agradou levar ao conhecimento das pessoas as vantagens e os benefícios de ordens prática e subjetiva da abordagem do software livre, mas sinto que tudo o que eu
queria dizer já foi dito – por mim e por outros – não encontro mais os mesmos desafios que antes encontrava (o que é bom! Mostra que progredimos e muito!) e os  desafios que agora me atraem se encontram em outra área correlata, mas ainda maior que software livre e apresentando o mesmo cenario deste, 10 anos atrás.

Há 3 anos venho idealizando com amigos uma form(ul)a par divulgar os princípios da cultura livre, isso se cristalizou como o projeto crosstalk (www.crosstalkmedia.net) que me apresentou novos desafios, tanto tecnológicos quanto pessoais. Voltaram finalmente à tona meus interesses por programação (há tanto   dormecido) e outros  dois tão antigos quanto ou mais: música e artes visuais.

Ah, o frescor da descoberta, o desafio pessoal do aprendizado… tudo ali, diante de mim, quando após mais de uma década profissionalizado, o que antes era em essência prazer se tornou profissão.

O projeto crosstalk possui em sua essência a divulgação de uma forma de arte livre, feita com software livre… uma parte desse software idealizada e produzida por nós mesmos, que pretendemos tornar livres.
Eu não vou deixar de ser um desenvolvedor Debian mas já não nutro mais
interesse por participar de listas, organizar eventos, sites de apoio, grupos de usuário e atividades relacionadas que cheguei a  desempenhar dentro do cenário Debian nacional, era notório meu afastamento dessas atividades e agora é oficial. Tenho um curso de pós graduação Latu Sensu a terminar e fui (com muita honra) convidado a retornar à universidade para um mestrado (Strictu Sensu que pretendo
tentar viabilizar tão logo complete o primeiro. Minha vida pessoal passou por mudanças profundas enre 2003 e 2005, quero deixar em 2005 tudo o que não me servir mais ou o que estiver confuso, incômodo ou estiver me prejudicando.

Nada como uma página em branco para um novo desenho.

Me confesso cansado e até um pouco decepcionado com a dinâmica social interna das comunidades de  software livre, desejo sinceramente que mais pessoas se alinhem às fileiras visando ser excelentes guerreiros e menos tentando ser caciques medíocres, porém caciques, – aviso – isso não é um reality show em concurso de popularidade. Toda a sorte do mundo para os curumins e as cunhãs da taba e se sentirem saudades, estou na tenda do pajé.

Um grande abraço

Eduardo Marcel Maçan


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Comentários

Uma resposta para “Bye Bye, so long, farewell”

  1. Avatar de irado
    irado

    puxa error.. tempão que procuro por vc. Também afastado dos vários encontros – por motivos diferentes – mas sempre sentindo sua falta (enorme) nos irc da vida.

    Enfim, vejo com satisfação e, claro, com alegria, que vc torna a se dedicar a compartilhar conhecimento conosco, via dicas-l. Que bom 🙂

    Desejo tudo de bom pra vc; apareça, pra gente conversar – meu zémail taí e, se quiser, te mando meu icq/jabber. Sempre bom saber que vc está bem.

    Abraços,

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