Post enorme, estava nos meus rascunhos há pouco mais de um mês. Aconteceu no meio das minhas férias, quando eu tive que voltar pra SP pra resolver uns problemas chatos e ver o show do Blue man group.
A seguinte história de terror se deu na viagem de volta no trecho entre Boituva e Santa Mariana. Eu tentei resumir, mas não dá. Cada parágrafo tem algo que contribui para descrever o que eu vivi naquela noite
Eu sempre pego a poltrona 41 ou 43 quando viajo de São Paulo pra Santa Mariana. São as janelas no fim do onibus, perto do banheiro. A chance é muito maior de ir sozinho porque todos detestam essas poltronas, principalmente os corredores. Em compensacão elas reclinam mais que as outras e em viagens noturnas o banheiro quase não é usado, não chega a se constituir um problema.
Só que desta vez o ônibus estava lotado e eu não tinha muita alternativa, escolhi a 40 torcendo por uma desistência ou que o passageiro ao meu lado descesse em uma cidade no meio do caminho, me deixando livre pra aproveitar o espaço no restante da viagem.
O ônibus saiu de SP e ninguém subiu pra ocupar a vaga ao meu lado: “que maravilha!”, pensei. Provavelmente a pessoa desistiu… enfim quem se importa? Fiquei atravessado entre as duas poltronas e dormi quase confortavelmente, até…
…que eu abro um olho e vejo o ônibus entrando em uma cidadezinha do interior para pegar mais passageiros.
“Fim da mamata!”, me resignei e ocupei (somente) a poltrona que era minha por direito… com uma certa curiosidade sobre a pessoa que viria a ocupar o lugar vizinho. Por precaução deixei a divisória entre os bancos abaixada.
Fiquei olhando pra frente torcendo pra esse alguém ser ninguém. Entra uma pessoa, encontra seu lugar… entram duas… três… Mais ninguém? Eu já estava ficando contente, quando entra meio cambaleando uma mulher enorme. Eu tenho 1,76m, pelas minhas contas ela devia ter por volta de 1,85m de altura.
Paciência… ela vem procurando seu lugar, olhando os números nos bagageiros (desde o começo do ônibus, por sinal) até encontrar: “Quarenta! Poxa, é no fim do ônibus!”. Pois é dona, é no fim do ônibus… *suspiro*
Ela literalmente “passa por cima de mim”, ergue a divisória e desaba sobre a cadeira em uma nuvem de perfume barato, cigarro e cachaça. Era uma mulher enorme, com o que poderíamos chamar de um “torso em forma de pera”. Uma pera grande, bem grande.
Eu estava com sono, eu fico irritado quando tenho sono… já estava me conformando e tentando dormir quando ela resolve levantar para ir ao banheiro. Eu me levantei para ela passar e irritado, fiquei encostado em pé no fundo do ônibus, pra ela não me incomodar na volta. Nisso o ônibus volta a andar.
Aí começo a sentir um cheiro de queimado vindo do banheiro… não era o cheiro de qualquer coisa queimando, se é que vocês me entendem… parecia cheiro de mato queimando, e ousaria dizer que não era qualquer mato. Sim amiguinhos, ela estava fumando no banheiro do ônibus, o que por si só já seria proibido.
Agora que me dou conta, não contei que a “senhorita” trajava uma espécie de “terninho” pendendo pro roxo forrado com estampas de oncinha ainda, contei?
Ela saiu, deu uma balancada, passou direto por mim e entrou nas poltronas da frente, passou por cima do velhinho que estava no corredor e sentou em cima do cara que estava na janela, ainda demorou um pouco pra perceber o que estava acontecendo. Quando
percebeu veio falando: “ai que cena, ai que cena!” me deu um cutucão que quase fez atravessar a parte de trás do onibus e disse: “moço, por que você não me avisou?” foi aí que eu senti o bafão de cachaça, o cheiro de cigarro e perfume de quinta. Quase passei mal, foi por pouco mesmo!
Resmunguei algo como “tou com sono” e ela foi lá se encaixar na poltrona. Sentei, me espremi na lateral pra ficar longe e estava tentando pegar no sono novamente. Nisso o ônibus pára e o motorista vem até o fundo perguntar quem tinha ido ao banheiro. Ele pergunta pra todo mundo que estava menos do que dormindo se alguém tinha visto quem tinha ido ao banheiro.
A delicada mulher a meu lado diz: “Fui eu, por que?” O motorista pergunta: “A senhora estava fumando no banheiro?” “Tava sim, por que?” e o motorista todo constrangido: “É porque isso não pode não, viu? Não pode isso não… Não faz isso mais não porque não pode não.”, eu torcendo para que ele fizesse cumprir a lei e deixá-la na próxima cidade, mas ele se contentou com isso. Fiquei com vontade de dizer “e não era cigarro não, seu motorista!” mas imaginei que isso não teria o efeito desejado e poderia piorar ainda mais o restante da minha viagem.
Comecei a dormir de novo e ela também. Ela rolava e eu acordava incomodado, ela virava de lado e dava joelhadas em mim e eu acordava e me espremia mais no braço da minha poltrona pra tentar não ter contato. Nós chegamos a passar algumas horas agradáveis juntos – as que eu permaneci inconsciente – talvez duas em cinco.
Numa dessas viradas dela eu comecei a ouvir um barulho: “bzzzzzzzzzzzzz”, que não parava: “bzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz”, meia hora depois a #!$#$!$!#$ do “bzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz” saindo da mulher e eu já temendo o que fosse, mas não querendo acreditar o que seria aquele barulho “motor a pilha” vindo da poltrona ao lado.
Depois de uns 45 minutos ouvindo “BZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ” ela acorda, se mexe, resmunga algo, abre um zíper (pelo movimento era uma pochete) e desliga o bzzzzzz, fecha o zíper se ajeita e volta a dormir.
Aí eu passei a torcer pra o onibus esvaziar na primeira cidade e eu poder trocar de poltrona e pelo menos viajar uns 100km descansando. E passa Ourinhos, quase ninguem desce. e passa Cambará, nada. Andirá… quase ninguém. Em Bandeirantes descem o tiozão e o amassado das poltronas à minha frente e antes que eu pudesse me mexer ela passa por cima de mim e troca pra lá. Já não adiantava mais eu dormir, Santa Mariana era a cidade seguinte.
Ainda a vi contando um bolo grande de notas de 10 que ela tirou da pochete. Toda a experiência que tive nas horas anteriores me fez ficar intrigado com algumas coisas: “Se há oferta é porque há procura” era algo que não saiu da minha cabeca. Confirmar minhas suspeitas sobre o que era o “dispositivo elétrico que fazia bzzzzz” que ficou acidentalmente ligado “fazendo bzzzzz” dentro daquela pochete por mais de uma hora (embora eu sinceramente não quisesse vê-lo :P) e principalmente: Qual a marca de pilhas que ela usava, porque em mais de uma hora de “uso contínuo” o “bzzz” do “seja-lá-o-que-fosse” continuou alto e forte, sem perder intensidade. Mas que potência!
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