Era um dia normal de trabalho, exceto por ter resolvido ficar até mais tarde. Gracas aos diferentes horários de funcionários, sempre chegava depois do primeiro e saía antes do último raramente precisando se preocupar em abrir ou trancar as portas que davam acesso à sua sala.
Naquele dia o funcionário que geralmente vai embora por último avisou: “Eu estou indo, mas o fulano terceirizado vai ficar até mais tarde, ele vai ficar com a chave” – o amigo sabia que ele estava sem cópia da chave da última porta – “Então quando ele sair, vou embora junto!”, pensou. Teria dado perfeitamente certo se, ao resolver sair, não tivesse dado de cara com as luzes apagadas das salas intermediárias e pasmem! A porta trancada. A única das quais não possuía chave em seu molho. De cara xingou um pouco o infeliz que o tinha trancado. Já era tarde e ninguém que possuisse tal chave ou uma cópia estaria lá. Correu os olhos pelo quadro interno de chaves e constatou que não havia uma cópia para aquela porta.
Pensou: “Que situacão constrangedora!”, seria ainda mais constrangedora se outros viessem a ter ciência de sua condicão. Pedir ajuda não era uma opcão, mas não entrou em pânico. Entre seus diversos talentos havia o de ser capaz de abrir cadeados e trincos com razoável destreza pois esse fora durante um bom tempo seu passatempo preferido, já levara menos de um minuto para abrir trincos da marca mais comum. Analisou o trinco… razoavelmente simples, não ofereceria resistência. Até hoje apenas chaves com 4 segredos o tinham vencido. Buscou sua gaveta e pegou 2 clipes de papel, essas seriam suas ferramentas para a liberdade; uma vez fora, usaria as mesmas para trancar a porta novamente e ninguém precisaria ficar sabendo de sua proeza, se ficassem, certamente admirariam seu ato heróico e habilidade.
Lá vai ele com suas ferramentas improvisadas, coloca os clipes no buraco da fechadura e comeca a lembrar da técnica há tempos esquecida… o tambor gira um pouco, “estamos no meio do caminho”, pensa. A porcaria do clipe entorta. Tira o clipe, dá uma torcida pra reforca-lo, comeca de novo. 5 minutos, desta vez a ferramenta improvisada mostra firmeza… *click*, o tambor gira! “Heheheh!”, a satisfacão toma conta de seu ego trancado… “DROGA!!!” – depois do giro do tambor o segredo fecha o trinco novamente. O !#$!#$!#@$ que o havia trancado havia dado 2 giros no tambor e ele não tinha se precavido. Vamos comecar novamente e dar mais um giro nessa…. *CLACK* *CLACK* … opa! Alguém está mexendo na macaneta! “Putz, que hora… eu estava quase conseguindo…” hesita em responder, mas não havia alternativa, havia sido descoberto.
“Alô?” diz tímido, “O que você está fazendo aí?” responde o diretor da empresa do lado de lá da porta. Oh! Céus, o diretor! Ele costumava ficar até mais tarde de vez em quando, mas justo hoje?!? A situacão que se tornara um passatempo divertido de repente se torna uma experiência aterradora de constrangimento “Me trancaram aqui, eu estou abrindo o trinco… estou sem a chave” não havia o que fazer, qualquer desculpa esfarrapada seria ainda mais constrangedora.
Ele respira fundo, frustrado por ter ficado a um giro de tambor da liberdade (e de, com sua habilidade, impressionar seu chefe igualmente hacker) e ouve outra voz do outro lado da porta, seu diretor fala: “Ei, minha secretária está aqui e disse que viu o rapaz trancar a porta e jogar a chave por baixo, dá uma olhada no chão pra ver se não tem uma chave aí”. Ele, ainda apoiado em um dos joelhos olhou pra baixo, instintivamente para seu lado direito. Ao lado do seu pé jazia reluzente a chave daquela porta. Derrotado, pegou a chave e a levou até o trinco… retirando as ferramentas que havia construído, deu o giro que faltava no tambor.
A porta se abriu juntamente com os sorrisos de ironia daqueles que o esperavam do lado de fora. Sabia que agora seria definitivamente parte do folclore da empresa, não exatamente da maneira que esperava.
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