Mao San, o sábio

Quando estive viajando pelo Tibete, ficamos presos por uma tempestade de neve durante dias nas proximidades do monte Kailash, próximo à nascente dos rios Indos e Bramaputra… lá, a algumas centenas de metros jazia o pequeno e recluso templo em que fomos gentilmente abrigados, aquecidos e providos de mantimentos por alguns monges que seguiam as orientacoes de seu sábio mestre, conhecido por todos como mestre Mao San.

Mestre Mao San era dotado de sabedoria ímpar, mas muitas vezes taxado pejorativamente de progressista e revolucionário por pregar idéias conservadoras a respeito dos mecanismos que regem o universo. Foi perseguido por governos e membros das mais diversas castas tibetanas. Essa perseguicão fez com que Mao San imigrasse clandestinamente. O seu paradeiro é incerto, uns afirmam que ele se mudou para o Brasil e tem uma loja de aviamentos na 25 de marco em SP, outros juram que ele vende Yakissoba na Paulista… o fato é que, no curto período de tempo que passei preso no mosteiro de Mao San, aprendi a maior parte da sabedoria que tenho certeza, levarei comigo através da passagem da eternidade. Assim sendo, sinto-me na obrigacão de partilhar com os leitores do meu blog as historias que presenciei no templo.

Certa vez os monges meditavam na presenca do mestre, a admiracão e a curiosidade de todos, bem como sua ansiedade em obter respostas pairavam no ar como nuvens de chumbo. Raras eram as vezes em que um discípulo vencia o silêncio impulsionado por suas angústias, numa dessas vezes o discípulo questionou o mestre:

_”Mestre, o que fere mais, as palavras ou o silêncio?”

O mestre interrompeu seu transe e olhou calmamente para a voz que o interpelava. Constatando o interesse de todos pela resposta, sorveu um pouco do chá que jazia fumegante sobre sua pequena mesa de junco e após saboreá-lo (e ganhar fôlego) respondeu:

_”Um no lugar do outro.”


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