Antes dos anos 2000, quase tudo o que se publicava sobre tecnologia e futuro especulava sobre o mundo após a mítica virada de milênio. Em uma dessas publicações voltadas para o público pré-adolescente eu li que os computadores aumentariam a eficiência do trabalho e que “após os anos 2000 só será necessário trabalhar três dias por semana”.
A barra de progresso do novo século já está em 25% e o futuro tranquilo, harmônico, limpo, pautado pelo pensamento científico, com mais tempo para nós mesmos e para nossas famílias não é bem o que a gente vive… E os três dias por semana? Fomos enganados pelas promessas de futuro?
Quem quer que tenha escrito aquela frase que marcou minha infância ignorou algo que hoje é claro pra mim: somos mais eficientes e produzimos em três dias (ou menos) o equivalente a cinco dias da época em que o texto foi escrito, o erro estava em assumir que a demanda por produção intelectual permaneceria constante.
A demanda não só acompanhou o ganho de eficiência da tecnologia, mas provavelmente o superou. O aumento de eficiência reduz o custo de utilização de um recurso, criando oportunidade para sua maior utilização em atividades já existentes e para novas aplicações, o que acaba aumentando a demanda pelo recurso.
Paradoxalmente precisar menos pode levar a precisar mais.
Esse paradoxo foi proposto pelo economista inglês William Jevons no século XIX, observando que o consumo total de carvão aumentava mesmo com a melhoria da eficiência das máquinas a vapor. Ele também tem sido frequentemente citado quando se especula sobre o futuro dos programadores diante da produção de código automatizada.
Existe muita controvérsia sobre “se, quando e onde” o paradoxo de Jevons é aplicável, pelo menos ele me ajudou a perdoar o futurista que me iludiu e enganou quando eu era criança
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