Tchau, Facebook.

E Olá, “meu site”.

Quando a web surgiu, como um apanhado de documentos que poderiam ser ligados uns aos outros através de hyperlinks já veio acompanhada da necessidade de expor informações pessoais. Quem eu sou, onde trabalho, com quem trabalho, quem são meus amigos, etc. Cada um fazia sua própria “home page” que dependia de conhecimento técnico e habilidades para ir ao ar. Cada nova versão de navegador vinha com alguma novidade que era rapidamente incorporada às home pages para destacá-las das demais, certamente um embrião geek do festival de vaidades que a gente vê por aí hoje em dia.

Para que a possibilidade de exposição pessoal via web chegasse onde chegou alguém teve que tirar da frente a obrigatoriedade do conhecimento técnico. Six Degrees, Orkut, Myspace, Facebook, etc, nada mais são do que formulários padronizados que qualquer um pode preencher para abrir seu espaço na internet. Rapidamente se constatou que essas plataformas transformariam a web em uma coleção de “jardins murados” (walled gardens). Tudo é muito bonito, fácil e agradável, mas você está vivendo dentro do jardim de alguém. E assim se consolidou um dos mais bem-sucedidos modelos de negócio da Internet, você consome conteúdo, repassa conteúdo alheio, produz conteúdo dentro do jardim e o alcance do que você produz é arbitrado pela plataforma. As pessoas menos técnicas antropomorfizam esta moderação na figura mítica do “Algoritmo”, este ser que limita o alcance dos seus posts, a menos que você pague.

Eu sempre me incomodei por saber que o conteúdo que eu produzia nestas plataformas não era exclusivamente meu, por mais que eu não produzisse nada muito relevante. Coisas engraçadas e um pouco de notícias e atualizações da vida para as pessoas mais próximas, basicamente. Resolvi esse incômodo integrando este site com essas plataformas, o que eu postasse nelas, seria copiado aqui, até cheguei a colocar anúncios. Ao menos meu conteúdo poderia render alguns cliques pagos. Meu comportamento e o conteúdo que eu compartilhava continuavam sendo sinais do que eu gostava e do que não, insumos para um retrato da minha personalidade e para a exposição de anúncios com os quais eu teria mais chance de interagir dentro de cada jardim, mas tudo bem.

Há uns 5 anos, mais ou menos, entrei numa biblioteca pública que fica a 500m da minha casa e me dei conta que seria muito mais proveitoso passar duas horas por dia concentrado lendo alguma coisa realmente instrutiva que eu estava ignorando do que fragmentar esse tempo recebendo conteúdo de redes sociais e respondendo ao FOMO (Fear Of Missing Out – “medo de ficar de fora”) induzido por essa sede coletiva de novidades rasas.

A verdade é que nunca consegui realmente passar as duas horas diárias extras lendo, mas diminuí bastante meus passeios pelos jardins murados. Me mantinha neles porque nesse meio tempo a popularização alcançou minha família, estavam todos lá no Facebook, Whatsapp, alguns no Instagram. Se tornou uma maneira preguiçosa e passiva de manter o contato, lembrar de todos os aniversários, ver as fotos de viagens e eventos…

Até a unificação do Facebook, Messenger, Whatsapp e Instagram. Essa pra mim foi “a palha que quebrou as costas do camelo”, como se diz em Inglês. Decidi adotar uma estratégia de “não intersecção” nestas plataformas através de uso de diferentes emails, números de celular e dispositivos para dificultar a vinculação do meu comportamento nesses aplicativos sob uma única identidade digital. O primeiro passo foi solicitar o download de 2Gb de dados que o Facebook dispunha sobre mim e o cancelamento da conta. O Facebook promete exclusão definitiva dos dados em 30 dias, após esse período eu criaria uma conta “limpa”, como parte desta estratégia.

Aí uma coisa mágica aconteceu: durante os 30 dias sem Facebook eu me senti bem melhor e não perdi absolutamente nada. Fato: Eu não vou voltar. Acabei migrando parte da minha atenção para o Instagram e para o Twitter mas é provável que eu também repense os limites do meu uso em algum momento.

Quanto à produção de conteúdo estou convencido (eu e várias marcas mais espertinhas por aí) que o bom e velho site/app próprio é a melhor maneira de se conectar com sua audiência, diretamente, sem filtros. No máximo um grito dentro dos jardins murados aqui e ali pra avisar que você tem algo que considera importante e por isso escreveu em outro lugar, como fiz com esse post aqui.

Quanto ao Whatsapp, ainda não vou sair dele completamente mas ele já ganhou um celular com agenda e linha à parte, que não tem Instagram instalado. Aliás, quem precisar de mim sabe como me encontrar em outros jardins.


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