Após longos meses de trabalho acumulados (com uma troca de emprego somando meses no caminho) tirei merecidas férias. 30 dias, usados para… ser pesquisador da USP. Resolvi não sair de São Paulo e focar em tocar meu (por tanto tempo desejado) mestrado adiante.
Tive minha sanidade mental questionada quase unanimemente por todos para quem disse isso. Ao invés de ir todo dia para o trabalho, saio de casa todo dia pra ir para a Poli, (que fica só a uns 2 Km do Trabalho, o trânsito é o deslocamento são os mesmos) em efeito pouca coisa muda na minha rotina. Será?
Em poucos dias de mudança de foco (do profissional/mercado para o acadêmico em tempo integral) já ficou evidente para mim o tipo de condicionamento a que meu raciocínio vem sendo submetido nestes anos longe da academia, pela dificuldade que tenho encontrado em escrever/produzir dentro deste novo contexto. No mercado de tecnologia somos condicionados ao pensamento pragmático, nossos objetivos são extremamente práticos e a aplicação de soluções é muito mais importante do que a conceituação das mesmas. Quase ninguém se pergunta (ou raramente se perguntam) sobre os conceitos por trás do que costumamos chamar de “soluções”. É frequentemente mais importante “fazer o que funciona” do que necessariamente “saber porque funciona”.
Já na academia vejo cada termo que uso ser frequentemente questionado por ter definição vaga ou imprecisa, sou instigado a contextualizar meu objeto de estudo e fornecer definições que não incorram em ambiguidades, sou cobrado pelo encadeamento lógico do meu raciocínio e o excrutínio da minha produção por pares é um exercício explícito e fundamental para o meu trabalho. Percebi que condicionei meu raciocínio a focar em como resolver um problema, quando às vezes, a definição precisa do problema em si é a parte mais difícil.
Douglas Adams já me provocava em seu Guia do Mochileiro das Galáxias: Após 7,5 milhões de anos calculando (e consequente enorme expectativa), o Supercomputador “Deep Thought” dá a “resposta para a questão definitiva sobre a vida, o universo e tudo o mais”: 42. Após encontrar a confusão do público a respeito da resposta ele explica: “O problema, para ser honesto com vocês, é que eu acho que vocês nunca souberam qual era a pergunta”, aproveitando para informar que alguns milhões extras de anos seriam necessários para encontrá-la. É frequente também ouvir que definir bem um problema é metade da sua resolução. (a atribuição mais provável que encontrei para esta frase foi a Charles Kettering – “A problem well stated is a problem half solved”).
Enfim, estou descansando de um modo de pensar que apliquei diariamente por muito tempo para exercitar “outros músculos” do meu cérebro. E o ritmo, horários e atividades são outros! Eu saí depois do rodízio, resolvi algumas coisas, passei em alguns lugares, vim para a universidade, almocei devagar e aproveitei o Campus, visitei o Museu de Arte Contemporânea… Sim, acho que isso são férias. Espero voltar melhor delas do que era quando entrei.
Em tempo: Vou viajar no feriado 😉
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