Post originalmente publicado no blog Trezentos.
Cloud computing virou a discussão da moda nos jantares de diretorias de TI antenadas com a modernidade. Agora o futuro é “a nuvem” embora o entendimento do conceito pelas pessoas que o têm usado seja ainda mais nebuloso que a definição de “computação em nuvem” em si.
Para os meros mortais que sobrevivem utilizando a tecnologia para suportar os processos e estratégias de negócios no mundo corporativo “a nuvem” começa a se desenhar como sinal de desgraça iminente. Se toda a infraestrutura de negócios vier a estar “na nuvem” (o que quer que isso seja) o trabalho dos que operam esta infraestrutura se tornará desnecessário, a não ser é claro que você trabalhe para alguém que forneça “a nuvem”.
Em parte é verdade. A tecnologia é voraz ao substituir os elos mais fracos da “cadeia alimentar” do trabalho. As pessoas escreviam à mão, as máquinas de escrever as tornaram mais eficientes e menos pessoas foram necessárias.
Os computadores substituíram as máquinas de escrever, corrigir se tornou tão fácil quanto errar, as máquinas de escrever se tornaram obsoletas, os “datilógrafos” foram transformados em digitadores, houve novo aumento da eficiência com terminais de digitação conectados a uma estrutura central de processamento e armazenamento. A eficiência aumentou, o papel começou a ser menos necessário.
As pessoas passaram a usar computadores e a maior parte do que se produzia já nascia em meio eletrônico. Nesse meio tempo, software de OCR passou a ser também mais eficiente e hoje os digitadores praticamente não existem mais.
Aconteceu na lavoura, aconteceu com os digitadores, aconteceu com os ascensoristas (embora ainda veja alguns no centrão de São Paulo) e existe a chance de que as pequenas e médias empresas não vão precisar mais dos operadores de infraestrutura quando todo mundo utilizar “a nuvem”. Mais eficiência e economia na área preferida de cortes de 9 a cada 10 fusões: TI.
Obviamente as coisas não são nem sempre tão feias nem tão bonitas quanto pintamos. O momento do que se tem convencionado chamar de “a computação comercial em nuvem” ainda é bem indefinido. Pessoas que aprenderam sobre “a nuvem” através de abordagens conceituais e “pseudo-filosóficas” a comparam à invenção da lâmpada e do deslocamento da geração local de energia para as grandes centrais de distribuição dos primeiros tempos da elétricidade pública. Se é para utilizarmos essa analogia, nos encontramos no momento em que as lâmpadas tinham roscas diferentes para cada fabricante, se você fizesse a instalação das lâmpadas de Edison, teria que comprar lâmpadas sempre de Edison.
Muito foi necessário até que todas as lâmpadas viessem com soquetes idênticos, de forma que o fornecedor da sua lâmpada fosse aquele que melhor lhe conviesse no momento da compra. É assim com “a nuvem”. Existem muitos fornecedores de infraestrutura e serviços de internet diferentes que são comumente chamados de “computação em nuvem”, mas cada um com o seu próprio padrão e seus próprios serviços.
Ao escolher hoje o seu fornecedor de serviços “na nuvem” um dirigente de TI não estará automaticamente economizando milhares de dinheiros. Estará incorrendo em um projeto de conversão de sistemas que o irá amarrar ao fornecedor de serviços para sempre, ou até que seja necessário mudar para outro provedor de serviços, quando uma nova conversão e gastos se farão necessários.
O profissional que queira se manter competitivo precisa estar atento porque haverá eventualmente uma demanda maior de serviços para alguém que seja capaz de entender, planejar e manter serviços nestes ambientes do que alguém capaz de “instalar e remover programas” em servidores locais. É necessário começar agora.
O curioso é que as tecnologias de processamento distribuído, ou de terceirização de infraestrutura que ganharam hype sendo rebatizados de “computação em nuvem” nem são novidade. Uma parte dos fornecedores por aí simplesmente rebatizou seus serviços para “computação em nuvem” sem muito critério pois “se você não oferecer ’serviços na nuvem’ você está fora”.
Ainda assim, no meio da confusão de conceitos, existe uma mudança em curso. É necessário que criemos padrões abertos para os serviços de computação distribuída de forma a evitarmos o grande desperdício de recursos em reescritas e novas reescritas de sistemas no futuro próximo. O open cloud manifesto resume bem essas necessidades.
E eu vou além! Precisamos de um sistema de computação em nuvem aberto e livremente acessível a desenvolvedores do mundo todo. O projeto hadoop da apache foundation é hoje o melhor e mais provado sistema para infraestrutura de serviços distribuídos LIVRE que temos.
Devíamos nos unir para criar tal infraestrutura distribuída nem que cada indivíduo provesse em sua casa um nó de um grande grid de computadores ligados à internet em seus ADSLs domésticos. Precisamos popularizar o entendimento do conceito e criar o conhecimento necessário para o uso efetivo destas tecnologias.
Sem “entendimento nebuloso” e terrorismo psicológico, como temos visto por aí.
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