Micreiros montam rede em casa

Matéria originalmente publicada no Jornal Correio Popular de Campinas, em 9 de junho de 1996.

Os estudantes Mauro Nascimento Rezende, de 23 anos, Eduardo Maçan, de 21, Renato Mitsuo Wada, de 23, e Marcus Túlio Buzollo de Aquino, de 21, montaram uma república digital em Paulínia. Até o pequeno portão azul de ferro que separa a entrada da velha casa da rua, nada de diferente. Mas, ao cruzar a soleira da porta, percebe-se que a preocupação dos quatro jovens vai além dos livros escolares e da diversão.

Os quatro alunos de Engenharia de Computação da Universidade de Campinas (Unicamp) curtem blues e rock-and-roll, gostam de tocar violão, tomar cerveja nos finais de semana e namorar. Só que ao contrário de muitos estudantes, eles integram a tribo dos plugados. Possuem uma rede, feita artesanalmente com cabo coaxial de 50 ohms, interligando os computadores localizados nos dois quartos da casa.

Nessa rede que usa a linguagem Unix estão “pendurados” um PC Pentium 100, um lap-top 486 DX4, um PC 486 DLC 40 (montado com peças de outras máquinas), um PC 286 e até um obsoleto CP 500, que serve apenas como “terminal burro”. “Como todo micreiro profissional, alimentam o ódio por Bill Gates, o dono da Microsoft, que produz softwares Windows. Trabalhamos com o ambiente Unix, que é mais profissional que o DOS. É um sistema multiusuário que, ao contrário do Windows, permite que você compartilhe a mesma máquina com outras pessoas”, explica Rezende.

A rede dos estudantes não é nada sofisticada. O cabo coaxial é fixado às paredes dos quartos com miguelões (uma espécie de tachinha) e faz o contorno da porta do banheiro, que fica entre os dois dormitórios. “A ideia inicial foi criar um ambiente mínimo de rede para nos libertar da superlotação dos laboratórios da Unicamp”, explica Maçan.

Atualmente, os quatro estão desenvolvendo experiências com transmissão de voz através da rede de computadores. “Pensamos em abrir uma empresa de desenvolvimento de softwares para aplicação em redes. O que desenvolvemos aqui pode ser usado para a Internet”, diz Rezende.

Outra experiência desenvolvida no Napanet (Núcleo Avançado de Paulínia) é com a Intranet, rede que interliga os computadores de uma mesma empresa em várias localidades diferentes. O Napanet é uma brincadeira do grupo com a rede artesanal e com a Arpanet — rede que interligava computadores das instituições militares americanas na década de 60 e que deu origem à Internet.

“Usamos a Internet desde 1993, antes dela ser implantada comercialmente. Criamos uma ótica diferente em relação a ela, que se transformou em uma fonte de informação para nós”, exemplificam. Todos eles começaram a se familiarizar com a informática ainda pequenos, seja com os videogames, Atari ou os computadores TK.


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