As distribuições Linux

Artigo originalmente publicado na Revista da Unicamp

Atenção, isso foi em 1998.

Tendo o Linux o caráter de livre distribuição que tem, é natural que várias pessoas ou organizações passassem a distribuí-lo. Nasceram assim as distribuições de Linux. “Mas que diferença faz qual distribuição eu escolho, se é tudo Linux?”, voce deve estar se perguntando. Para um usuário comum, que vai precisar editar um texto, fazer um programa, editar uma imagem, acessar a internet, entrar e sair do ambiente gráfico, etc, as diferenças serão realmente poucas e por vezes imperceptíveis.

As grandes diferenças entre as distribuições estão nas ferramentas de manutenção do software instalado, em sua filosofia e no seu público-alvo.

A maioria das pessoas se assusta no primeiro contato com o Linux, pois não estavam acostumadas a ter um grande leque de escolha no mundo de software e sistemas operacionais proprietários de onde vieram. O primeiro susto é que existe uma dezena (isso mesmo, aproximadamente dez) distribuições diferentes, ao menos na época em que este artigo foi escrito. A próxima pergunta é se esta grande variedade não irá levar ao caos e à incompatibilidade entre distribuições e, conseqüente, a auto-destruição do Linux. A resposta para esta dúvida ao meu ver é bastante simples: “Não”. Muito já foi discutido a esse respeito, destas discussões nasceu o trabalho conjunto entre vários distribuidores para regulamentar as distribuições de Linux, e criar um núcleo comum para evitar a tão temida incompatibilidade, este esforço é chamado de LSB (Linux Standard Base) que visa criar a plataforma “padrão” de Linux a ser seguida por todos os distribuidores.

O segundo fator é que estas distribuições também são diferenciadas pela sua filosofia e público-alvo, o que faz com que elas não compitam diretamente por usuários. Uma nova distribuição nasce quando as existentes não atingem as necessidades de um novo grupo de usuários, e estes decidem criar a sua própria distribuição. Para ilustrar, irei comentar as diferenças filosóficas entre as distribuições mais famosas:

Slackware Linux

Uma das distribuições mais antigas mas ainda em evidência, apesar de ser pouco atrativa para os novatos. Esta distribuição, organizada por Patrick Volkerdig tem pouca ou nenhuma organização no que diz respeito a gerenciamento de dependência de pacotes, ou seja, você pode inadvertidamente remover um pacote de software do qual outros pacotes necessitam para funcionar sem sequer ser avisado disso. É uma das poucas (senão a única atualmente) que pode ser instalada a partir de diskettes.

A slackware é atraente para pessoas que têm bastante experiência em administração Unix, e que gostam de baixar o código fonte de programas, compilá-los, instalá-los, configurá-los e gerenciá-los com as próprias mãos, à moda antiga. É, no entanto, a distribuição que dá mais liberdade ao administrador por não impor restrições e que exige mais conhecimento dos utilitários e pacotes de software do sistema.

Não existe uma forma simples de fazer upgrade em Slackware, o modo comum é fazer backup de dados de usuários e configurações e instalar um novo slackware do zero.

O uso prolongado de Slackware tende a criar um administrador mais experiente do que os demais, e com menos cabelos.

Open Linux

A distribuição da empresa norte-americana Caldera, responsável pela manutenção de diversos produtos comerciais para Linux. O Open Linux, apesar do nome, é a distribuição que possui mais pacotes de código fechado, tendo um visual bem familiar ao mundo comercial, voltado para pessoas de gravata.

A distribuição Caldera foi a primeira a distribuir o Netscape quando este ainda era um produto fechado. O servidor Oracle lançado para Linux foi disponibilizado primeiro para esta distribuição. A Caldera também detém (entre outros) os direitos de comercialização do servidor Novell para Linux. O Caldera Open Linux tem pouco compromisso com o software livre, incluindo em sua distribuição pacotes polêmicos, como o KDE (desktop com cara de Windows95 para Linux) que é livre, mas obriga o usuário a instalar uma biblioteca comercial no sistema.

Se você não dá a mínima para o que é Free Software, quer ter o Linux para fazer sua empresa andar sem ter que rebootar os servidores a cada 12h sem se desfazer de toda a filosofia comercial à qual você está acostumado e ainda pagar um bom dinheiro para a distribuidora do software, então o Open Linux é para você.

Red Hat Linux

A Red Hat é a distribuição mais popular nos dias de hoje. Além de contar com o RPM, o gerenciador de pacotes mais difundido na internet, é mantido por uma empresa que se preocupa com Free Software, mantendo vários funcionários com a tarefa única e exclusiva de escrever software que será disponibilizado através da internet, com código fonte e tudo.

Vários projetos foram adotados pela Red Hat, como o Gnome e o Enlightenment, o primeiro, resumindo drasticamente, é um protocolo para a integração entre aplicações e o segundo um gerenciador de janelas com características extremamente avançadas e inovadoras, juntos os dois são concorrentes diretos do KDE.

O Red Hat Linux é muito preocupado com o usuário leigo, sendo a distribuição de instalação mais simples e rápida e que conta com uma das melhores interfaces. Recentemente a Intel, a Netscape e outras empresas passaram a investir na Red Hat, o que tende a torná-la ainda mais popular. A Red Hat é hoje a distribuição de Linux que suporta mais plataformas de Hardware.

Se você é um novo usuário de Linux, considere a Red Hat como a melhor escolha para começar a se aventurar com Unix.

Debian GNU/Linux

A Debian começou como um projeto da FSF (Free Software Foundation, a fundação responsável pelo projeto GNU e pelo início de toda esta onda de Free Software), posteriormente houve o desligamento entre os dois projetos e a Debian tomou vida própria.

A mais preocupada com Free Software de todas as distribuições e a mais aberta. Apenas pacotes que tenham código-fonte disponível sem restrições podem fazer parte da distribuição principal Debian.

Se você quiser fazer parte do time Debian, basta que você escolha um pacote de software que ainda não faz parte da distribuição, estude as normas e mecanismos impostos e anuncie seu interesse de empacotá-lo e incluí-lo, automaticamente você ganhará o status de “developer” e passará a ser responsável por cuidar de seu pacote, fazer atualizações de versão e etc.

Graças a esta filosofia, a Debian é hoje a distribuição com o maior número de pacotes de software (perto de 2000) e com o maior time de desenvolvimento (mais de 300 pessoas). Seu sistema de controle de pacotes é extremamente robusto (alguns afirmam ser melhor do que o da Red Hat) e confiável.

Fazer um upgrade do sistema Debian geralmente se resume a colocar o novo CD na máquina e pedir o upgrade, que será feito sem que os usuários percebam e sem ter que rebootar o computador.

As desvantagens existem. Até o presente momento a instalação da Debian é um pouco confusa para quem começa, principalmente porque o usuário fica obrigado a escolher um por um entre todos os pacotes disponíveis, mas a promessa é que nas próximas versões um novo gerenciador de pacotes será integrado, que irá facilitar em muito a vida do usuário.

Quando você escolhe Debian, você tem certeza de que você tem liberdade total com o software que você adquiriu, sem ter que se preocupar com licenças, pois elas foram todas avaliadas antes de serem incluídas na distribuição. Uma parte dos usuários de Red Hat migra para Debian depois de algum tempo de uso.

Debian é a minha distribuição preferida. Se você é alguém que se preocupa com a liberdade de Software, torce o nariz para software comercial, precisa administrar uma rede e já tem experiência, considere o Debian como uma alternativa prática.

Monkey Linux

Para aqueles que têm medo de criar partições de disco e instalar mais de um sistema na mesma máquina, que por algum motivo não podem instalar um novo sistema no computador, ou para aqueles que querem apenas experimentar o Linux, a distribuição Monkey Linux é a escolha, já que esta distribuição pode ser instalada numa partição DOS/Windows. O Linux tem um mecanismo que o permite funcionar sobre uma partição FAT (DOS/Windows) como se estivesse sobre o EXT2FS (a formatação do Linux) claro, sob o custo da eficiência, já que a FAT é muito pobre em recursos que acabam tendo que ser emulados.

Se você tem medo do que é novo para você e quer experimentar o Linux de que tanto tem ouvido falar, instale o Monkey Linux, inicialize seu Windows em modo DOS, rode o programa de inicialização e assista o Linux substituir o Windows completamente na memória e se inicializar utilizando uma partição DOS como se fosse um filesystem Unix. Depois que você começar a se perguntar o que o DOS/Windows ainda faz em sua máquina considere uma das distribuições citadas anteriormente neste artigo 😉


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